Uma carta para guardar | | Imprimir | |
CYRO MARTINS - CM- os anos decisivos: 1908 -1951 |
Em 1944, Cyro Martins experimentava um sucesso literário até então inédito em sua carreira como escritor. Campo fora, de 1934, Sem rumo, de 1937, Enquanto as águas correm, de 1939, e Mensagem errante, de 1942, não provocaram o mesmo barulho que Porteira fechada, lançado entre março e abril daquele ano em que a II Guerra Mundial começava a pender para os Aliados. Antes mesmo de chegar às livrarias, já se falava em Porteira fechada. Na edição número 359 da Revista do Globo, na introdução àextensa matéria “Será este o nosso estado?”– que contava com textos de Cyro (“História do gaúcho marginal”) e Justino Martins (“Crônica de uma cidade marginal”) e fotografias captadas pelas lentes de Ed Keffel –, havia menção ao livro: Cyro Martins, em sua história [“História do gaúcho marginal”], expõe uma situação e sugere suas causas, da mesma forma que o faz, brilhantemente, em seu novo romance Porteira fechada, que deverá sair a público dentro de poucos dias, numa edição da Livraria do Globo[i]. A propaganda dos seus produtos era uma marca da Globo. Entretanto, ainda que essa estratégia fosse utilizada com a trama de Guedes, um fato se impunha: Porteira fechada se tornava conhecido pelo público. De volta às páginas da Revista do Globo, é possível observar uma pista mais contundente do sucesso da obra. Na coluna “Escritores e livros”[ii], assinada por Carlos Regius em 06 de maio de 1944, Porteira fechadaaparecia em duas notas. Em uma delas, via-se a reprodução de uma imagem da vitrine da Livraria do Globo, que estava decorada com os exemplares do romance e as fotografias de Keffel utilizadas em “Será este o nosso estado?”. Na outra, um box intitulado “Guia do Leitor”, lia-se a referênciaaos cinco livros mais vendidos nas lojas da Livraria do Globo na “última quinzena” e Porteira fechada ocupava a segunda posição, atrás apenas de Fronteira agreste, de Ivan Pedro de Martins.
A boa vendagem de Porteira fechada assinalava o sucesso da obra e mostrava que ela chegava aos mais variados leitores.Cyro entendia que um escritor só completava seu papel quando atingia o público. De nada adiantava editar e lançar livros se as pessoas não os lessem e não lhe dessem algum retorno. Naquela metade de 1944, Cyro sabia que sua mais recente história era lida e esperava as opiniões. Elas vieram de vários lados, mas uma foi mais significativa. No final de junho de 1944, Cyro recebeu dos funcionários da Globo a carta de um leitorespecial: Marques Rebelo[iii]. Com data de 20 de junho de 1944, a carta de Rebelo começava com esclarecimentos: Por intermédio do nosso amigo Maurício, que está trabalhando muito por você aqui, como já devia há mais tempo ter sido feito, recebi seu último romance Porteira fechada. O autor do premiado Marafa se referia a Maurício Rosenblatt, chefe da filial carioca da Livraria do Globo. A passagem “como já devia há mais tempo ter sido feito” sugere que Marques Rebelo conhecia a literatura de Cyro desde antes de ela ser divulgada por Rosenblatt. De qualquer maneira, interessava que Rebelo leu os livros de Cyro e teve segurança para afirmar: “Seria escusado mandar adjetivos aos teus méritos de romancista, mais do que isso, de escritor”. Era bom receber o elogio de um colega de oficio e saber que ele vira aspectos positivos em Porteira fechada: Há principalmente uma coisa no seu último livro que me agrada muito – limpeza. Limpeza no sentido que os ensaiadores teatrais, dignos desse nome, encaram o último ensaio do espetáculo – tudo certinho, sem mais e sem menos. Esse “tudo certinho, sem mais e sem menos” fazia com que Cyro tivesse duas certezas:Porteira fechada era um acerto literário e aquela carta era para guardar. |