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IX Jornada Celpcyro sobre Saúde Mental PDF Imprimir E-mail
Escrito por Maria Helena   
Qui, 23 de Agosto de 2012 00:37

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29 e 30 de junho de 2012 – NOVOTEL Porto Alegre

Veja a Programação e Convidados 
Organização: GWEventos Promoção: CELPCYRO


Temos muita satisfação em anunciar que todos os palestrantes convidados confirmaram suas presenças.

Segue a divulgação de dados sobre eles


  • davidDr. David E. Zimerman será agraciado, no evento, com o DIPLOMA AO MÉRITO CYRO MARTINS: Reconhecimento da Ciência e Cultura. 
    Médico psiquiatra e psicanalista gaúcho, membro efetivo e didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, Ex-Presidente da Sociedade de Psiquiatria do RS, Ex-Diretor Clínico da Clínica Pinel de Porto Alegre, Ex-Presidente da Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo de Porto Alegre. Autor de 12 livros sobre Psicanálise e sobre Grupos. Sua trajetória profissional está marcada pelo comprometimento com a formação médica e a formação psicanalítica, pela valorização da psicoterapia de grupo, sempre se destacando pela postura humanista.

  • antonioDr. Antônio Geraldo da Silva falará sobre Integração da Psiquiatria à Clínica Médica, prestigiando a Jornada CELPCYRO pela segunda vez, durante sua gestão como Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.
    Médico psiquiatra, Professor de Psiquiatria da COREME-HUCF da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES. 

  • luis-augustoDr. Luis Augusto Paim Rohde falará sobre O Futuro de Diagnóstico Psiquiátrico.
    Professor Titular de Psiquiatria da UFRGS, Professor da Pós-Graduação em Psiquiatria - USP, Coordenador-Geral do Programa de TDAH do HCPA. Destaca-se como terapeuta da Infância e Adolescência, no que tem levado sua contribuição além fronteiras, sendo eleito Presidente da World Federation of ADHD e Vice-Presidente da International Association of Child and Adolescent Psychiatry ,and Allied Disciplines (IACAPAP).
     

MINI ENTREVISTAS COM OS PALESTRANTES CONVIDADOS

mabildeLuiz Carlos Mabilde (RS)
Psiquiatra e Professor/Supervisor Convidado dos Cursos de Especialização em Psiquiatria, Psicoterapia e de Supervisão da UFRGS/CELG, Psicanalista Didata e Professor do Instituto de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA).
Título da Apresentação: PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA: VISÃO CONTEMPORÂNEA DA TÉCNICA

1 - Há espaço na contemporaneidade para tratamentos psicodinâmicos prolongados?
- Há, sim, tanto pela necessidade imposta por algumas patologias (caracteres neuróticos), quanto pela técnica indicada. E claro que a motivação do paciente e a flexibilidade do analista são cada vez mais importantes.

2 - Saliente algum aspecto que se alterou na técnica das psicoterapias psicanalíticas?
- O principal foi o desenvolvimento do conceito e uso da contratransferência até seu mais novo paradigma, que é a intersubjetividade.

3 - Quem se beneficia dessa técnica?
- Ambos. O terapeuta enriquece sua técnica e o paciente tem seu tratamento abreviado no tempo e no custo.

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carlosCarlos Alberto Iglesias Salgado (RS) Psiquiatra, Especialista em Dependência Química pela UNIFESP, Mestre em Psiquiatria pela UFRGS, Pesquisador Associado do ProDAH/HCPA, Conselheiro da ABEAD, Membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do CFM e Psiquiatra da UDQ/HMD.

Título da apresentação: DEPENDÊNCIA QUÍMICA: QUANDO A INTERNAÇÃO É INDISPENSÁVEL

1 - Quais as características da psicopatologia de um transtorno aditivo que favorecem um tratamento não hospitalar?
- Creio que o momento motivacional para mudança, os vínculos amorosos, laborais (ou acadêmicos) e familiares contribuem, mais do que a menor gravidade do quadro clínico.Também a experiência do Psiquiatra contribui sobremaneira para o sucesso do atendimento ambulatorial. Cada dia proponho menos a atenção hospitalar. Curiosamente, por outro lado, venho de uma série de internações de pacientes usuários de maconha em Comorbidade com THB com sintomas psicóticos.

2 - Como estamos aparelhados para enfrentar ambulatorialmente os quadros de dependência na rede pública?
- A DESASSITÊNCIA em saúde tem ampliado, atingindo também e gravemente a Medicina chamada Complementar coberta por seguros de saúde. Em Psiquiatria não é diferente de Ortopedia ou Medicina Interna. Faltam vagas de atendimento em todos os níveis, desde a UTI neonatal até a atenção crônica geriátrica.

3 - É possível tratamento de dependência ao crack sem uma internação prolongada?
- Como em qualquer quadro de dependência química, há graus variáveis de gravidade da dependência de CRACK. Os casos graves demandam internação a longo prazo, ou a forma residencial de tratamento que se pode dar em Comunidades terapêuticas urbanas ou rurais. Um plano de tratamento alternativo interessante é combinar a frequência diária a GRUPOS DE AUTO AJUDA e o atendimento psiquiátrico especializado, reduzindo a demanda por leitos.

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alt Analice de Paula Gigliotti (SP) - tema: DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS E COMPULSÕES

1- Qual o perfil do paciente adicto que se beneficia de psicofármacos?
-Todo paciente adicto pode se beneficiar do uso de psicofármacos. Entenda-se por adicção (conforme muito provavelmente será definido pelo DSM-V) um comportamento contínuo e compulsivo, a despeito de consequências negativas, com "craving" persistente e perda de controle do comportamento. 

2- Como desenvolver aderência medicamentosa nestes pacientes?
-A pergunta é pertinente. Como fazer com uma pessoa que gosta de fazer uma coisa, como beber, por exemplo, troque a bebida por uma medicação que tira o prazer de beber e ainda lhe causa efeitos colaterais? A aderência ao medicamento costuma ser diretamente proporcional à consciência de prejuízo. 

3 - Como são as perspectivas medicamentosas para o tratamento das dependências?
- Muito boas. Nos últimos 15 anos vem aumentando muito o número de estudos e com isso o arsenal farmacoterápico para as dependências químicas. Uma doença (alcoolismo) que há poucas décadas era vista como um problema de caráter, com uma forte conotação moral, vem se aproximando cada vez mais do conhecimento médico. 
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Dr. Ygor Arzeno Ferrão (RS)- Graduação em Medicina pela Universidade de Ciência da Saúde de Porto Alegre, Mestrado em Medicina: Ciências Médicas, pela UFRGS e Doutorado em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Adjunto de Psiquiatria da UFCSPA, Professor da Universidade Metodista do Sul e Médico Psiquiatra Preceptor no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. Membro do CTOC e do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento (INPD).

CURSO que vai ministrar: ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA (EMT) - TEORIA E PRÁTICA

1- O que é a Estimulação Magnética Transcraniana?

- A estimulação magnética transcraniana (EMT) é um método relativamente novo e seguro que está sendo empregado em diversos países (como por exemplo, Canadá, Israel e Estado Unidos), já aprovado pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para o tratamento de depressão (unipolar e bipolar) e de certos sintomas de esquizofrenia (como alucinações). Para tal utiliza-se um aparelho que usa campos magnéticos para estimular as células nervosas do cérebro.

2- Quais os quadros clínicos em que se aplica?
- Foi aprovado pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para o tratamento de depressão (unipolar e bipolar) e de certos sintomas de esquizofrenia (como alucinações).A literatura científica tem revelado também o uso terapêutico da EMT em outros transtornos psiquiátricos como: mania aguda, transtorno bipolar, transtorno de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático e fissura do uso de drogas. Além disso, transtornos neurológicos também possuem evidências de melhorarem com a EMT: doença de Parkinson, distonia, tiques, espasticidade, epilepsia, sintomas de afasia ou de funcionamento motor pós-acidente vascular cerebral, e síndromes dolorosas, como dor neuropática, dor visceral ou enxaqueca.

3 - Como se aplica, duração das sessões e periodo de tratamento?
- Uma espécie de imã é colocado próximo da cabeça por um período curto de tempo, cerca de 30 a 50 minutos. Esse imã em formato de “8” gera campos magnéticos (semelhantes a uma ressonância magnética de crânio) que penetram cerca de 1,5 a3 cm dentro do crânio, atingindo a parte externa do cérebro, conhecida como córtex. Onde os 2 campos magnéticos gerados pela bobina se encontram, ocorre uma corrente elétrica da baixa voltagem numa área aproximada de 1 cm3, que estimula ou inibe o funcionamento do neurônio daquela região cerebral. Os protocolos para depressão preconizam de 20 a 30 sessões realizadas diariamente na fase aguda do tratamentos e cerca de mais 12 sessões semanais na fase de manutenção. Não há necessidade de anestesia e não prejudica a memória. Os principais efeitos colaterais são cefaléia, dor no local da aplicação e convulsão.Convulsão – é o efeito colateral agudo mais grave da EMT repetitiva. Até 2008, 16 casos no mundo todo foram relatados (em 143 artigos científicos sobre EMT). Após 1998, 9 casos foram relatados, sendo que 6 estavam usando medicações que poderiam provocar crises convulsivas ou aumentar a chance de crise, e 3 estavam em privação do sono. Apesar de rara, a presença possível de convulsões justifica a realização de EEG antes das sessões de EMT.Dor local, dor de cabeça, desconforto– cerca de 28% dos pacientes têm dor de cabeça e 39% têm dor ou desconforto durante a aplicação de EMT, especialmente dor no pescoço, devido à postura forçada e imobilização da cabeça. Alguns relatam uma pequena, geralmente tolerável, fisgada no escalpo. Esses efeitos rapidamente terminam, podendo ocorrer apenas nas sessões iniciais. Apenas cerca de 2% dos pacientes não conseguem seguir as sessões de EMT devido a esses efeitos colaterais. A dor de cabeça costuma ser leve, e melhora com analgésicos simples (por exemplo, AAS, paracetamol, dipirona) que podem resolver o problema. Alterações psiquiátricas agudas – mania aguda foi relatada em pacientes após estimulação pré-frontal esquerda (0,84% para EMT repetitiva real x 0,73% para a falsa EMT repetitiva).

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mauricio

Maurício Silva de Lima (SP) - CONFERÊNCIA que vai proferir: COMORBIDADE PSIQUIÁTRICA: FATO OU ARTEFATO ?

Médico, Psiquiatra e Mestre em Epidemologia pela Universidade Federal de Pelotas, Doutor em Psiquiatria pela UNIFESP, Pós-Doutorado no Instituto de Psiquiatria de Londres, Professor da Universidade Federal de Pelotas de 1991 a 2007, foi Diretor Médico da Roche no Reino Unido até Janeiro de 2010 e atualmente é Diretor Médico da Roche no Brasil.

 

1- Há evidência científica para definirmos quadros psiquiátricos de multipla sintomatologia como comorbidades?
- A evidência disponível vem principalmente de estudos populacionais tranversais, como o ECA, OPCS Survey e outros. Esses estudos tranversais se associam a várias limitações, incluindo o viés de causalidade reversa. Ou seja, quando são dectados sintomas coexistentes, não sabemos se um é causa ou consequência do outro. Claramente as doenças mentais apresentam sintomas comuns a várias patologias, como a ansiedade e a depressão. As ferrramentas diagnósticas existentes são insuficientes para investigar comorbidades adequadamente, já que o diagnóstico de doençaas mentais é fundamentalmente clínico.


2- O desafio maior do clínico é a definição diagnóstica ou como desenvolverá o tratamento psicofarmacológico?
- Um fator está associado ao outro. Não dispondo de diagnósticos precisos e marcadores biológicos, o tratamento psicofarmacológico ocorre pelo método de tentativa e erro. O alívio proporcionado e na maioria das vezes sintomático, uma vez que a idenficação de agentes patogênicos e o conhecimento da fisipatologia são muito mais complexos do que nas doenças cardiovasculares, por exemplo.

 

3 - Os sistemas classificatórios diagnósticos avançarão para uma melhor identificação dos quadros clínicos das doenças?
- Não vejo essa perspectiva com os atuais sistemas existentes, como a DSM da Associação Psiquiátrica Americana. Essa classificação proporcionou avanços importantes no conhecimento da ocorrência e distribuição das doenças mentais (epidemiologia), mas gerou um número excessivo e pouco plausível de entidades diagnósticas. Precisamos voltar a estudar psicopatologia, fisiopatologia e buscar marcadores biológicos para doenças mentais.

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Madeleine Scop Medeiros (RS) Tema: DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE PSIQUIATRAS NA ERA DAS COMORBIDADES: UM ENFOQUE TRANSDISCIPLINAR

Psiquiatra pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestrado em Medicina e Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), Formação em Psicoterapia Psicanalítica pelo Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre, Título de Psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Psiquiatra da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Preceptora na Residência de Psiquiatria da UFCSPA e Coordenadora do Humanismo Médico do CELPCYRO.

1. Na visão de Cyro Martins, o humanismo médico se funda na consideração pelo paciente, algo "que não se verbaliza, transpira do estilo do comportamento assistencial" ( "A Medicina como profissão, Arte e Ciência") . É possível que um dos maiores desafios na formação de psiquiatras seja o entendimento de uma visão humanista da profissão?
- Um dos maiores desafios na nossa pós modernidade, geraçao Y, talvez seja ter o tempo necessario para sedimentar conhecimentos, e nao apenas engolir informaçoes sem digeri-las. Porque na era atual de virtualidade, ninguem procura o medico, nem o psiquiatra, para saber uma informação. Para isto procuram o Dr. Google. A nós, médicos, procuram para serem compreendidos e atendidos na alma. Na dor. E isto só se consegue com uma formaçao humanista. Com cultura vivenciada, digerida, perpassada pelas entranhas. Só assim podemos ter alimento para atender os que nos procuram esvaziados. Neste sentido, adquirir a formação humanista é um desafio necessário.

2- A perspectiva transdisciplinar poderia se beneficiar pela prática consciente do humanismo médico? Como?
- Quanto à perspectiva transdisciplinar, esta deve ser baseada numa formação médica que inclua o humanismo. Não há transdisciplinar sem transcender o concreto. O abstrair é recurso e ferramenta que devemos ter para nós e para emprestar aos pacientes. Quando se faz uma ligação de um fenômeno de dor com um acontecimento que desencadeia o sintoma, se enfraquece aquela via. Mas para ligar, só com um mundo imagético, que pode ser emprestado pelo psiquiatra. Sugerido. No intuito de estabelecer ligaçoes que comuniquem o significado da dor.

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Betina Mariante Cardoso (RS) - - Tema: BORGES E O ESTETOSCÓPIO - AS HUMANIDADES NA PRÁTICA
Médica Psiquiatra, com Especialização em Psicoterapia de Orientação Analítica (CELG/UFRGS), Mestre em Psiquiatria (UFRGS), Sócia-fundadora e Diretora da Casa Editorial Luminara, editora responsável pela publicação dos livros "Kate Chopin: contos traduzidos e comentados - Estudos Literários e Humanidades Médicas" e "Memórias de um corpo eviscerado", que apresentam Literatura e Humanidades Médicas em sua interface. Colaboradora do setor de Humanismo Médico do CELPCYRO. Coordenou a mesa-redonda "Literatura e Medicina: aliadas no ofício e no prazer", na Feira do Livro de Porto Alegre 2011, em parceria com o CELPCYRO, apresentou a palestra "Borges e o Estetoscópio" no XV Congresso Mundial de Psiquiatria em Buenos Aires, em 2011, organizado pelo setor de Literatura e Psiquiatria da Associação Psiquiátrica Mundial (WPA).

 

1- Jorge Luis Borges se constitui como autor camaleônico, mutante, tanto na variedade de personagens e situações que cria quanto na construção de um universo ficcional que mescla fantasia e realidade numa trama convincente e perturbadora para o leitor. Em que medida essas características seriam exemplares para enfocar "As humanidades na prática médica"?

A prática das Humanidades Médicas é inseparável da atividade clínica: sua razão de existir baseia-se, assim, na relação entre o paciente e do profissional de saúde que o atende. Da parte do último, é fundamental que haja o desenvolvimento, desde a graduação, de capacidades como percepção, descrição, comunicação e empatia, para que a abordagem da doença como vicissitude humana contemple o paciente para além de seus sintomas. É necessário abranger o sofrimento subjetivo do ‘estar doente’, além dos aspectos objetivos inerentes ao tratamento.
Sensibilizar o médico para a ‘ausculta’ desta subjetividade, a partir da leitura de textos literários, é um dos principais recursos da área de Humanidades Médicas atualmente. A escolha do escritor Argentino Jorge Luís Borges seria, neste processo, um ‘estetoscópio’ válido, possibilitando esta ‘ausculta’ das narrativas e das linguagens possíveis que o sofrimento humano assume no ‘estar doente’.
O aspecto camaleônico e mutante do autor, como referido, e o uso da abstração, das metáforas, as descrições simbólicas de tipos humanos, de percepções e de emoções, os labirintos, os espelhos, o confronto consigo: todos são elementos presentes na obra ficcional de Borges; estes elementos auxiliam o médico na construção de um modo de escutar o paciente que lhe permita treinar-se ao ‘ouvir para além do sintoma’.

 

2- E daí vem, então, a escolha pela aplicação de trechos literários de Borges como treinamento em uma aula de Psicopatologia?

Exatamente. Tendo em vista a existência deste universo ficcional que mescla fantasia e realidade, em Borges, considerei que a leitura do autor fosse um ‘estetoscópio’ oportuno para a ‘ausculta’ que os médicos podem fazer dos sintomas psicopatológicos do paciente. O treinamento está em sensibilizar o profissional para ‘todas as escutas possíveis’ que possa fazer de um relato do indivíduo, desenvolvendo, assim, uma construção metafórica, simbólica e criativa. O propósito desta sensibilização é a melhora da capacidade semiológica, através da escuta e da compreensão das narrativas do paciente na realização do Exame do Estado Mental.

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Ellis D'Arrigo Busnello - Tema: PERSPECTIVAS DO HUMANISMO MÉDICO

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Mestrado em Saúde Pública e Saúde Mental pela Johns Hopkins University. Atualmente é assessor especial da comissão coordenadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tem grande experiência na área de Medicina com ênfase em Saúde Mental, atuando principalmente nos seguintes temas: psiquiatria, problemas sociais, manejo psicofarmacologico, discinesia tardia e mirtazapina.

1- Cyro Martins foi dos primeiros profissionais da Medicina, em nosso meio, a trazer a público a importância da relação médico-paciente, em todas as especialidades, enfatizando a necessidade da visão humanista para um atendimento eficiente ( "A Relação Médico-Paciente", 1981). Como vê essa proposição na atualidade?
- De todas as profissões, a Medicina é certamente a que mais diretamente aborda o ser humano, seu objeto de trabalho, da forma mais abrangente: o seu corpo físico, o seu psiquismo, o que quer dizer, a sua mente e suas relações com o social, isto é, a sua posição face às sociedades humanas que a compõem , como a família nuclear e extensiva, a cultura em que vive mais diretamente e as culturas maiores, a(s) suas vizinhanças, seus bairros, seus municípios, seus estados, países e nações. Enfim, todas as relações que envolvem a humanidade, tentando viver sua curta vida saudavelmente, seja física, psicológica, seja socialmente. Os médicos sabem, por natural dever de ofício, que a saúde é uma condição de bem- estar físico, psíquico e social e não apenas a ausência de doenças. Sabem-no desde quando a humanidade foi consolidando a ciência e a prática dessa profissão. Os pais da Medicina já ensinavam a seus discípulos que deveriam não só aprender, mas incorporar o ensinado, que a saúde do homem deveria ser assim abrangentemente vista. E o compromisso do médico como profissional, assim como deveria ser o de todos os profissionais de todas as profissões, é com o bem-estar físico, mental e social do ser humano.
Ocorre que, com os médicos, repetindo o que os literatos, os grandes artistas, os grandes sábios nos ensinaram - porque eles, como Cyro Martins, têm o dom de se antecipar na definição dos grandes problemas e dos grandes deveres do homem -, os médicos “são mais iguais” do que os outros profissionais, no que concerne definir o seu compromisso. Por isso, foi-lhes imperativo não só aprender, mas incorporar, liderar e levar à prática o estabelecimento da mais elevada relação de compromisso com o bem-estar dos seus semelhantes, mais do que todos os outros profissionais das Ciências Humanas e, porque não dizê-lo, os profissionais de todas as Ciências, Artes e Letras, até que todos, como nós médicos, saibam que o bem-estar físico, mental e social de toda a humanidade é a nossa razão de ser. Por tudo isso, a relação médico-paciente é peça central da sua prática, do seu ensino, da sua pesquisa e da sua forma de administração dos seus serviços.

2- Diante da precariedade da formação humanística das novas gerações, quais seriam os aspectos básicos a considerar para que a noção de Humanismo Médico se torne uma realidade na prática da Medicina?
- A Medicina sendo a mais antiga das profissões que se voltam para o cuidado da saúde física, mental e social dos homens,visa alcançar, direta ou indiretamente, o grau maior possível dessa saúde, o que é impossível de ser alcançada sem uma formação e uma prática humanística. Assim nós, médicos, devemos repetir exaustivamente que o nosso objetivo é alcançar, para todos os homens, o grau mais elevado de saúde física, mental e social. Penso que devam assim se posicionar todas as profissões e todos os profissionais de qualquer atividade humana comprometida com a saúde. Falar apenas em ausência de doença é um atraso imperdoável.


3- Seria possível a formação de novas gerações de profissionais da saúde sem que passássemos aos graduandos de todos os níveis a noção de que seu objetivo deveria ser buscar o sonho impossível de homens, de sociedades humanas saudáveis física, psíquica e socialmente?

É impensável preparar as novas gerações para desenvolverem suas capacidades científicas, as mais avançadas, com conhecimentos e práticas éticas impecáveis e adaptadas aos avanços científicos, sem questioná-las quanto aos compromissos humanos e afetivos que as ligam àqueles aos quais vão cuidar. Vamos, pois, sonhar grande ao repensarmos a saúde dos humanos, porque fomos feitos com um tecido, quer Shakespeare, com que se tecem os sonhos. E o tecer de um homem cada vez melhor, durante nossas curtas vidas, é um sonho que o grande poeta propôs. Já anteriormente, diz a Bíblia, fomos feitos de barro, à imagem e semelhança de Deus, para sermos os reis da criação, animados por um sopro do Criador.
Seria um desperdício, em sendo o homem tecido ou moldado para sonhar e para criar, com o propósito de sermos sonhadores e buscarmos o que for melhor para tornarmos o homem e a humanidade melhores, se não tivéssemos como compromisso transmitir aos futuros médicos, aos futuros profissionais da saúde seu compromisso com o sonho, com a criação e com o destino da humanidade.

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Fernando Lejderman - Tema: O SUICÍDIO NA OBRA DE CYRO MARTINS

Médico, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialidade em Psiquiatria pela mesma instituição, Presidente da Associação de Psiquiatria do RS (APRS) 2008/2009.

1- Cyro Martins discordava do uso da ficção com a finalidade de caracterizar quadros psíquicos exemplares, o que ele considerava passível de "perigosa simplificação". (cf. "A criação artística e a Psicanálise"). Como entendes essa colocação em face dos textos dele que escolheu para abordar?

Ao observar a recorrência de alguns personagens suicidas na obra de Cyro Martins como João Guedes, em Porteira Fechada; Oswaldo, em Você deve desistir, Oswaldo e Brandino, em O Príncipe da Vila, me ocorreu estudar este tema sob o enfoque da descrição dos personagens em face de suas patologias psiquiátricas e, principalmente, como o autor descreve esta psicopatologia. A descrição de pessoas comuns, com infortúnios e sofrimentos comuns dos seres humanos é a maneira pela qual Cyro Martins aborda a tragédia pessoal destes personagens que terminam sua trajetória de doenças psiquiátricas graves com a morte, através do suicídio.


2 - Cyro Martins desenvolve a trajetória de personagens suicidas lançando pistas sutis do desenlace. Como exemplificaria isso nos textos que vai abordar?

Na descrição dos personagens que acabam por cometer suicídio, Cyro Martins constrói lentamente o cenário, onde se observa justamente a intensificação do sofrimento dos personagens , de modo contínuo e progressivo, assim como a ausência de perspectivas saudáveis na solução dos problemas apresentados. Provavelmente esta ausência de perspectivas - uma das características essenciais da desesperança - é o detalhe que sugere o final trágico .

Última atualização em Sex, 10 de Julho de 2015 08:39