Meu querido amigo Cyro Martins | | Imprimir | |
Abrão Slavutzky* Tu já estás por fazer cem anos, os Cem Anos do Sábio Cyro, e jáse passaramquase treze anos que te foste daqui. Logo eu escrevo não para ti, mas para teus leitores, amigos, familiares e conhecidos que são tantos. Tua capacidade de fazer amigos foi só uma de tuas qualidades. Na tua última festa de aniversário, quando fizeste oitenta e sete anos(05/08/1995) eu li algumas palavraspara todos,quando disse que ali estavam os felizes amigos do Rei Cyro. Um Rei sem exército, sempre foste um pacifista, um humanista, um Rei sem castelo, sem poder econômico, mas um Rei bondoso mesmo imperfeito como todos seres humanos. Tu não ficaste sabendo que teu amigo, o psicanalista argentino Horacio Etchegoyen, escreveu uma bela carta para a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, quando da tua morte, que foi publicada na revista da Sociedade. E na carta ele escreveu o quanto te admirava, o quanto gostava de ti e como se sentiu feliz que no nosso livro Para início de conversa, tu fizeste referência a ele. Escreveu ainda que o livro tinha sido feito por dois psicanalistas, tu e eu, e imaginas minha alegria em ser tratado com tanta distinção por aquele que foi o Presidente da IPA, uma instituição da qual nunca participei. Cyro, o tempo passou e saibas que não foste esquecido, que sigo orgulhoso de ter sido teu paciente e depois amigo, um amigo que no final escutou coisas que só se diz a um analista e tu me escolheste para dizer. Para mim foi uma grande honra e nunca contei nossas últimas conversas. Nossa forte amizade despertou, é claro, suas invejas e isso me pareceu normal, afinal eu nunca entendi bem porque tu confiaste tanto em mim. Serei para sempre grato a ti, e a vida que nos reuniu. Posso dizer que primeiro eu te escolhi, e depois tu me escolheste também e guardo esta medalha, pois ela me fez mais gaúcho, mais alegre, e mais humano. Obrigado Cyro, obrigado a todos que te amaram e te amam, pois somos uma grande confraria, a tua confraria. Escrevo para os que sentem saudades tuas que são muitos e assim matamos nossas saudades do teu olhar bondoso e sorridente. Tu, Cyro, foste mais que um escritor, mais que um psicanalista, tu foste um dos sábios gaúchos que fez o bem a tanta gente e que segue nos iluminando. Saudações fraternas bom e velho amigo, do teu paciente, do teu amigo, do teu sócio de vida. Porto Alegre, 06 de junho de 2008. * Abrão Salvutzky é Psicanalista, escreveu com Cyro Martins Para Início de Conversa (Porto Alegre, Movimento, 1990). |