REVELAÇÕES CULTURAIS DA FRONTEIRA - 08 a 11 de novembro de 2001 - PROGRAMAÇÃO |
Fronteiras Culturais - Fronteiras Culturais em Livramento e Rivera | ||
Nosso projeto Fronteiras Culturais (Brasil - Uruguai - Argentina), em 2001, aconteceu principalmente em Livramento (BR) e Rivera (UY), com propósitos de identificar e fomentar práticas culturais. Essas cidades têm uma característica única: a integração de seus traçados de tão evidente se torna quase invisível. A própria configuração urbana dissolve a linha divisória entre as cidades. No centro do Parque Internacional, um obelisco ladeado pelas bandeiras dos dois países é um monumento à união, longe de marco delimitador. Já aí se entende porque é chamada Fronteira da Paz.
Apresentados ao projeto, santanenses e riverenses acolheram-no com simpatia e disponibilidade. De pronto, fizemos parcerias: Associação Cristã de Moços (ACM/ACJ) FRONTEIRA, binacional; Prefeitura de Sant'Ana do Livramento; Intendencia de Rivera; órgãos de comunicação. Principalmente, conquistamos parceiros - professores, jornalistas, artistas, escritores, profissionais liberais - decisivos para desencadear e tocar o processo, tornando-se seus mediadores.
Iniciamos propondo às comunidades em geral a participação em pesquisas e práticas criativas, a partir da leitura de contos de Campo fora, de Cyro Martins (ed. bilíngüe, port. e esp) e da troca de idéias sobre o universo fronteiriço. Cada atividade com, pelo menos, um propósito: Oficinas de Criação e Leitura (resgate sócio-histórico pela literatura, relacionando imaginário e realidade); Charlas Fronteiriças (entrevistas com personalidades da fronteira), Fronteira em Rede (depoimentos, no papel e via Internet, sobre "O que é viver na Fronteira"). Tudo acontecendo simultaneamente, em pouco mais de 4 meses. Do tanto que se fez, se continua fazendo e se planeja para 2002, destaco duas experiências.
A proposta do projeto conquistou as componentes do "Club de Lectoras", que, depois de lerem e trocarem idéias sobre Campo fora, pesquisam, criam três contos, ilustração, duas canções, tudo feito e apresentado belamente.
Já na Escola Maternal Baby & Companhia, Andrea Ilha mobiliza as crianças, com cerca de 5 anos, que atentas ao contar da professora, vão materializando cavalinhos de pau, cinco-marias, brincando com tropilhas de osso. Encantam-se ao visitar pela primeira vez uma fronteira, na cidade onde vivem, mas de cuja existência nem sabiam, embora a atravessem volta e meia. Também são levados a reconhecer esse "outro idioma", que conhecem sem perceber que não é o português. E recriam em maquete, desenhos e brinquedos o que a realidade mostra, o que a memória de uma bisavó resgata e a imaginação delas alcança. Um passo importante para a construção de seu futuro Aliás, educadores das duas cidades avaliam esse modo de conhecer sua terra. A Maternal pode vir a integrar a proposta a seu currículo - "para que as crianças aprendam a dar valor ao lugar onde vivem desde cedo", diz Andrea. A Secretaria de Educação, depois de realizar encontros com professores, alguns trabalhos e excursões com estudantes para o reconhecimento das características dessa fronteira, encaminha projeto às escolas santanenses e convida as hermanas de Rivera a participar em 2002. Como semeador, joguei idéias, que encontraram corações e mentes prontos a fertilizá-las. E um guri da campanha saltou do livro de Cyro Martins, se pôs a brincar com a imaginação de leitores, incitando-os a criar. Um cheiro de pasto, uma paisagem espraiada, um tordilho a galope, uma vontade à solta. E uma fronteira seca, entre cá e lá, tudo parecendo o mesmo de nascença - até a descoberta "do outro lado", um novo mundo! Um e outra levando a insólitas revelações. REVELAÇÕES CULTURAIS DA FRONTEIRA Assim chamamos o evento que encerrou essa etapa do projeto, realizado no Clube Comercial, de 8 a 11 de novembro, junto à 3a. FEISUL - Feira de Indústria, Comércio e Serviços de Livramento e Metade Sul. (Veja a Programação) É incomum Feiras com as características da FEISUL darem destaque para cultura e arte. Também eventos culturais e artísticos, como o REVELAÇÕES, não costumam se ligar a Feiras de comércio, indústria e serviços. Assim, no caso presente, além de se romperem certos padrões, se concretizam possibilidades importantes. Principalmente quanto à necessidade de que um contexto - para ser conhecido e reconhecido - seja visto em suas diferentes facetas e suas inter-relações. Em especial, porque manifestações artísticas e culturais, pelo fato de se concretizarem em obras, expõem e disseminam idéias, sentimentos, aspirações impregnados de um registro positivo de auto-estima. Ademais, incentivam a própria comunidade e seus membros mais representativos economicamente a considerar a região e seus habitantes por suas peculiaridades, seu patrimônio cultural, muitas vezes despercebidos ou subestimados.
As atividades previstas para o REVELAÇÕES reuniram crianças, jovens e adultos; de artistas populares a poetas da Academia de Letras; professores e estudantes; escritores, pesquisadores universitários e público em geral - todos em torno de cultura e arte feitas por e sobre fronteiriços. Enfim, algumas centenas de pessoas estiveram diretamente envolvidas ou foram tocadas por isso, nesses dias. Mais que síntese e mostra de resultados, o evento levou o projeto ao vivo para a Feira, com seu processo, seus participantes interagindo com outros cidadãos. A cultura e a arte apareceram como produtos muito especiais, que podem se unir a setores produtivos convencionais, agindo como fatores de atração e potenciais de desenvolvimento. Revela-se, assim, um Mercosul vivencial, que acontece à revelia do Mercosul dos gabinetes. Também durante o evento se realizou um Encontro de Pesquisadores, cujos trabalhos contribuem para estudiosos e fronteiriços conhecerem e compreenderem melhor essa região. (LEIA a Revista CELPCYRO, Edição Especial Pesquisando a Fronteira). Reiteram-se, desse modo, objetivos do projeto Fronteiras Culturais (Brasil - Uruguai - Argentina), ao qual se ligam o Fronteiras Culturais em Livramento e Rivera e seu evento REVELAÇÕES. Entre eles, se destacam a pesquisa de elementos que podem favorecer a criação de empreendimentos, incentivando a sustentabilidade das comunidades da região; a implementação de atividades e produtos que mostrem suas peculiares - presentes nos costumes, na linguagem, na literatura, nas tradições, no artesanato, nas manifestações artísticas e culturais em geral, de hoje e de ontem; produtos a serem mais considerados pelo próprio comércio e indústria da região para, assim, romperem limites e limitações, valorizando mais a fronteira e suas possibilidades. Crianças, jovens e adultos transformaram leituras, pesquisas e descobertas em belas produções para o próprio desfrute, para oferecer a vizinhos, atrair forasteiros. E daí se alastrar fronteira afora ... A propósito: esse trabalho começa a chamar a atenção bem além de nossa fronteira gaúcha. Em julho de 2002, o Instituto de Estudos Latinoamericanos, da Universidade Livre de Berlim, com a coordenação da profa. Dra. Ligia Chiappini e a co-promoção do CELP Cyro Martins, realizará o evento CULTURA FRONTEIRIÇA: BRASIL, URUGUAY E ARGENTINA, com outras instituições alemãs e brasileiras, tendo a participação de estudiosos do Rio Grande do Sul, do Uruguai e da Argentina, além de alemães. Nessa ocasião iremos apresentar nosso Fronteiras Culturais em Livramento e Rivera. Em breve estaremos dando mais notícias a respeito. Maria Helena Martins
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