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CENTENÁRIO de LILA RIPOLL - Sobre | Imprimir |  E-mail

SOBRE LILA RIPOLL


Lila Ripoll, nascida a 12 de agosto de 1905 em Quaraí e falecida a 7 de fevereiro de 1967, é figura ímpar na nossa literatura.

É autora de De mãos postas (poesia) 1938, Céu vazio (poesia), 1941 (Obra vencedora do prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras), Por quê? (poesia) 1947, Novos poemas (poesia)1951 (Obra vencedora do prêmio Pablo Neruda da Paz), Primeiro de maio (poesia) 1954, Poemas e canções (poesia) 1957, Um colar de vidro (peça teatral inédita) 1958, O coração descoberto (poesia), 1961, Antologia poética Rio de Janeiro: Leitura; Instituto Nacional do Livro / MEC, 1968 (edição póstuma organizada por Walmyr Ayala), Ilha difícil: antologia poética. Porto Alegre: Editora da Universidade / UFRGS, 1987 (organizado por Maria da Glória Bordini).

Personalidade marcante para sua época, foi poeta, professora, jornalista, pianista e militante comunista candidatando-se em 1950 a deputada estadual pelo PC, enfrentado forte oposição dos conservadores, o que inviabilizou a sua eleição. Colaborou no "Correio do Povo", "Revista Universitária", "A Tribuna Gaúcha" e editou a "Revista Horizonte" (1951).

O tom confessional, intimista de sua obra, que prioriza os temas do amor e da morte, da infância perdida ou mesmo o tema da militância política, faz com que a autora dialogue com outras autoras de seu tempo.

A voz singular de Lila Ripoll, ao apresentar um ponto de vista feminino sobre sua experiência existencial, amorosa e política, aparece, tanto através de sua obra como através de suas condutas, em consonância com a voz de autoras como Cecília Meireles ou Florbela Espanca e das escritoras latino-americanas suas contemporâneas como Gabriela Mistral, Rosario Castellanos, Delmira Agustini ou Alfonsina Storni.


Retrato

Chego junto do espelho. Olho meu rosto.
Retrato de uma moça sem beleza.
Dois grandes olhos tristes como agosto,
olhando para tudo com tristeza!

Pequeno rosto oval. Lábios fechados
para não revelar o meu segredo...
Os cabelos mostrando, sem cuidados,
Uns fios brancos que chegaram cedo.

A longa testa aberta, pensativa.
No meio um traço, leve, vertical,
indicando uma idéia muito viva
e os sérios pensamentos: — o meu mal!...

O corpo bem magrinho e pequenino.
— Sete palmos de altura, com certeza. —
Tamanho de qualquer guri menino
que a idade, a gente fica na incerteza!

E nada mais. A alma? Ninguém vê.
O coração? Coitado! está bem doente.
Não ama. Não odeia. Já não crê...
E a tudo vive alheio, indiferente!...

Meu retrato. Eis aí: Bem igualzinho.
O espelho é meu amigo. Nunca mente.
No meu quarto, ele é o móvel mais velhinho.

E sabe desde quando estou descrente!...

Publicado no livro De Mãos Postas (1938).
In: RIPOLL, Lila. Ilha difícil: antologia poética. Sel. e apres. Maria da Glória Bordini. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1987. p.16


Grito

Não, não irei sem grito.
Minha voz nesse dia subirá.
E eu me erguerei também.
Solitária. Definida.

As portas adormecidas abrirão
passagem para o mundo

Meus sonhos, meus fantasmas,
meus exércitos derrotados,
sacudirão o silêncio de convenção
e as máscaras de piedade compungida.

Dispensarei as rosas, as violetas,
os absurdos véus sobre meu rosto.

Serei eu mesma. Estarei
inteira sobre a mesa.
As mãos vazias e crispadas,
os olhos acordados,
a boca vincada de amargor.

Não. Não irei sem grito.

Abram as portas adormecidas,
levantem as cortinas,
abaixem as vozes
e as máscaras —

que eu vou sair inteira.
Eu mesma. Solitária.
Definida.

Publicado no livro O Coração Descoberto (1961).
In: RIPOLL, Lila. Antologia poética. Rio de Janeiro: Leitura; Brasília: INL, 1968. p.81-82

Lélia Almeida
- Escritora e Professora de Literatura –UNISC